segunda-feira, 30 de junho de 2014

Com gosto de quero mais!

Um dos princípios bem claros na Pedagogia Waldorf é que não há caminho pronto, o caminho se faz ao caminhar. Há orientações gerais sobre como as aulas tem que ser dadas, mas não há uma cartilha do beabá. O professor e o aluno é que formam essa cartilha conforme o processo vai acontecendo. É bem como ressalta o educador Severino Antonio neste vídeo: "A maneira depende das escolhas que nós fazemos. E o professor faz escolhas".

Dentro dessa liberdade de ação, uma orientação importante é trabalhar através de imagens, através de vivências, que permitam a associação do que se aprende com a imagem da história, da vivência.

Estamos na terceira época de alfabetização e chegou a hora da letra "Q". Então, apresentei a história do vaqueiro Quim, que era chamado pela mãe de Quinzinho, e gostava muito de queijo e de quiabo. Tinha um cachorro chamado Floquinho e ia até a quitanda da dona Quitéria para comprar quiabo fresquinho e comer fritinho com arroz. O ritmo inicial ganhou o seguinte poema:

"Está no quadro, está no queijo
 E no queixo do Quinzinho.
 Está no quilo do quiabo,
 E no meio do Floquinho.

 Tem no quarto e na quitanda,
 No quimono e no quiosque.
 No começo do quintal
 E no fim de todo bosque."

E as palavras e a letra "Q" foram surgindo...




E para completar a vivência, decidi ir até a quitanda do bairro comprar um pouco de quiabo e preparamos um delicioso quiabo frito, que foi servido acompanhado de fatias de pão. A preparação começou com a observação, o toque e o cheiro do quiabo. Depois lavamos, fatiamos e salgamos. Na hora da panela, por segurança, fiquei pilotando o fogão e por fim, mesa posta!


E assim saboreamos a vivência e a conquista do "Q", que ficou com gosto de quero mais!!!

domingo, 15 de junho de 2014

É São João!!!

E chegou a época de São João!

E pela primeira vez a vivencio dentro da Pedagogia Waldorf!

O mais bacana de viver em épocas é tomar ciência de todas as possibilidades de auto transformação que cada época traz. Agora, por exemplo, a época de São João traz um convite para transcender o eu pequeno e deixar viver o Eu superior. A luz das fogueiras e lanternas é a luz do Cristo que, depois do evento de Pentecostes, fica reconhecida como de cada um e de todos nós. E essa luz só acontece através do fogo que consome o ego, a ilusão, a ignorância.

Um dos textos mais profundos que li sobre essa época é o "João Batista", da Comunidade de Cristãos, disponível no site Festas Cristãs. Eis o trecho que mais me tocou:
"Nós não podemos ter perdido tudo o que, quando crianças, trouxemos de imenso e maravilhoso em forças celestiais para a terra! Nós não perdemos esta riqueza ao nos tornarmos adultos! Só não sabemos o que fazer com ela e por isso ela fica bem no fundo, nos recônditos mais profundos, em carne, ossos e sangue. Mas, podemos trazê-la à tona podemos trabalhá-la e descobrir novamente esta magia da riqueza espiritual e celeste."
É em busca da vivência dessa riqueza espiritual e celeste que estamos todos nós. E os elementos e simbolismos vividos durante a época de São João nos ajudam a mergulhar fundo e descobrir esse tesouro escondido em cada um de nós.

Ontem montei a mesa de época aqui de casa. Fiquei apaixonada pelo casal de caipiras que consegui criar! A fogueira, as bandeirinhas... uma beleza simples e extremamente profunda....


quarta-feira, 11 de junho de 2014

As agulhas da Pedagogia Waldorf dando forma a feltros, lãs e linhas!

A primeira comunidade de bonecos inspirados na Pedagogia Waldorf feitos com as próprias mãos a gente nunca esquece!


Encontrei o modelo para estes bonecos no livro "Criança Querida - O dia a dia da Educação Infantil", de Renate Keller Ignácio, que você encontra à venda na loja virtual da Editora Antroposófica.

segunda-feira, 9 de junho de 2014

Vivenciando a Matemática

Na primeira época de Matemática vivenciamos bastante o cálculo oral e a representação das unidades através de muitos desenhos e também de algarismos "quase romanos" - 1 = I; 2 = II; 3 = III e assim por diante... Digo "quase romanos" porque, para evitar confusões com as letras recém introduzidas, optei por trabalhar o 5 como "IIIII" e não "V".
Agora, na segunda época, estamos conhecendo os algarismos arábicos,também através de muitas histórias e desenhos. Dentre essas histórias, se destacou a que criei para vivenciar o número 6. Aproveitei as personagens de uma história que contei na época anterior de Alfabetização e surgiu a seguinte história.

Vocês se lembram da Dona Carlota, avó do Carlos e da Clara? Pois então, nessa tarde, depois que eles voltaram da escola, Dona Carlota sentou na varanda com os netos e propôs uma brincadeira diferente: 
- Vamos contar as coisas que estão à nossa volta? - disse a vovó.
- Vamos! - responderam os dois irmãos super empolgados.
Foi então que um bando de pombinhas pousou numa árvore bem em frente à varanda e eles começaram a contar juntos:
- 1, 2, 3, 4, 5, 6. Seis pombinhas!!!!
Depois, foram até a macieira e a vovó pediu que eles colhessem as maças maduras que encontrassem.
- Peguei uma, disse Carlos.
- Encontrei mais duas aqui! - foi a vez de Clara.
- Opa, mais duas bem madurinhas bem aqui! - Carlos gritou feliz da vida.
- Mais uma! - Clara colocou na cesta.
- Bom, já pegamos todas as maduras. Vamos ver quantas temos na cesta?
E os dois irmãos começaram a contar:
- 1, 2, 3, 4, 5,6. Seis maças madurinhas!
Dona Carlota, ao ver seis maçãs tão maduras e apetitosas disse:
- Hummm, já sei o que vou fazer com essas maçãs tão bonitas! Vou preparar uma deliciosa torta de maçã! 
- Hummmm, que delícia vovó! Uma torta de maçã que quentinha com esse friozinho que está fazendo...
- E vocês podem ir até a horta colher galhos de hortelã para prepararmos um delicioso chá para acompanhar a torta.
- Sim, lá vamos nós!
Enquanto a vovó preparava a torta, Carlos e Clara,  foram até a horta e colheram seis galhinhos de hortelã, mas não de qualquer jeito: escolheram um a um, os galhinhos mais vistosos e foram contando:
- 1, 2, 3, 4, 5, 6. Pronto, já temos hortelã suficiente para um delicioso chá!
Voltaram para a cozinha, lavaram os seis galinhos e ajudaram a vovó Carlota a preparar o chá.
Enquanto vovó Carlota cuidava da torta e do chá, Carlos e Clara voltaram para a varanda e perceberam que já estava quase anoitecendo e decidiram sair em busca das primeiras estrelas da noite.
- Uma, encontrei uma ali, Clara! - disse Carlos todo empolgado.
- Outra ali, Carlos! E mais uma! Já conseguimos ver três estrelas! - comentou Clara cheia de alegria.
- Veja, Clara, ali temos mais uma!
- Olhe outra ali, Carlos, em cima do telhado!!!
Os dois caminhavam de costas olhando para o céu e sem se dar conta, foram se aproximando um do outro. De repente, os dois viraram para o mesmo lado e ao mesmo tempo apontaram para o céu dizendo juntos:
- Mais uma, encontrei mais uma!
Era a sexta estrela que eles contavam! Ele já tinham encontrado seis estrelas naquele começo de noite.
Iam continuar contando as estrelas quando ouviram vovó Carlota chamando, a torta estava pronta. Correram para a cozinha e quando lá chegaram, encontraram uma linda mesa com seis pedaços de torta de maçã e seis canecas de chá de hortelã. E um aroma delicioso de torta de maçã com chá de hortelã perfumava toda a casa! 
Papai, mamãe e Sr. Francisco, o vizinho, chegaram e todos juntos se deliciaram com a torta de maçã, o chá de hortelã e as histórias que Carlos e Clara contavam sobre as seis pombinhas, as seis maçãs, os seis raminhos de hortelã e as seis estrelas que viram no céu.

E depois da história, desenhamos tudo que Carlos e Clara haviam contado e o que a vovó Carlota havia preparado.




As crianças e eu amamos essa vivência!

sexta-feira, 6 de junho de 2014

E por falar em poesia...

Na última segunda-feira, um de meus alunos, o Gustavo, após o ritmo, me fez a seguinte proposta:
- Professora, vamos fazer uma música sobre a luz?
Respondi que naquele momento teríamos aula de matemática, mas que depois do recreio escreveríamos a canção.
Voltamos do recreio e começamos a exercitar os versos e rimas. Eis o resultado do poema criado por ele:


Em seguida, começamos a cantarolar os versos, que viraram uma canção e a canção agora faz parte de nosso repertório rítmico de todo dia.
Além da beleza da canção, é bonito ouvi-lo dizer:
- Professora, agora vamos cantar aquela música da luz que a gente fez.

quarta-feira, 4 de junho de 2014

Um presente da Tutti - a poesia e filosofia da infãncia

Eis mais um presente da amiga querida Tutti Madazzio!
Uma rica entrevista com o educador Severino Antônio falando sobre a natureza poética e filosófica das crianças.
"Neste mundo embrutecido em que estamos, poucas coisas podem nos tirar da banalização e da brutalidade. As imagens de crianças tem esse poder. Elas podem nos salvar da indiferença em todos os lados. Nós estamos correndo um risco muito grande de ter uma geração de jovens sem projetos de mudar o mundo, de mudar a vida. Não dá para ter alegria e esperança só no futuro, isso é mortal. A gente precisa descobrir alegria no presente, que nem tem que descobrir poesia no cotidiano da escola. É um sonho, né?"



Gratidão, Tutti!!!

terça-feira, 3 de junho de 2014

Entre luz e sombra

No último sábado participei da formação Mainumby! E o tema foi "Desenho de Luz e Sombra". Que presente! Que graça poder estar ali e participar de uma vivência tão grandiosa!
Adriana Leibl, professora de classe da Escola Rudolf Steiner, nos apresentou uma pincelada geral do currículo do 6o. ano e a perfeita inserção do desenho de sombra dentro desse currículo. Tudo muito encantador!
Depois, vivenciamos um pouco dos trabalhos que os alunos normalmente fazem. Para mim, que nunca tinha desenhado com carvão e com essa temática de luz e sombra, foi uma experiência incrível. Meditação, exploração, descoberta, emoção... tudo junto e misturado... a luz e sombra às claras...
Um dos depoimentos que a professora Adriana trouxe me chamou a atenção. Ela disse que para uma professor de Artes, realizar a arte é inspiração, é tranquilo; mas que para um professor de classe realizar a arte pode ser transpiração, trabalho duro, tirar leite de pedra e isso faz com que o trabalho seja ainda mais gratificante, é a auto-educação acontecendo!
E eis os desenhos que vivenciei nesse sábado tão especial, seguindo sua ordem de execução.






O último desenho é bem especial pra mim... Neste sábado, Marcéu, meu filho de 4 anos, me acompanhou. Enquanto eu estudava, ele brincava pelos caminhos da Resiliência. O último exercício proposto pela Adriana foi ficarmos na sala observando uma vela acessa e um livro ou sairmos para explorar alguma cena no ambiente externo. Eu não precisei ir muito longe... bem ali, na porta da sala, Marcéu se construía brincando com seu trator, abrindo caminho, descobrindo uma linha do trem, limpando os trilhos... Ali parei e fiquei... e pude vivenciar o processo de deixar fluir, de observar e sentir meus dedos como uma extensão do meu olhar... Em alguns momentos a neura do "o que tenho que ver, o que tenho que representar" quis me apavorar, mas a presença do sutil foi tão mais forte e natural... e a arte aconteceu... e como disse Adriana, foi um processo revitalizante.

Gratidão à Vida, à Associação Monte Azul, ao Mário Zoriki, à Professora Adriana, à Tutti, ao Marcéu e aos colegas que ali estavam por uma manhã tão gratificante!